Nos dias que correm, são cada vez mais os casos de infertilidade masculina, por diversas causas, de entre as quais se destacam o estilo de vida actual, problemas genéticos e problemas físicos.
Neste artigo iremos abordar o funcionamento do sistema reprodutor masculino, o processo de fecundação, as causas de infertilidade masculina e os princípios dos nossos tratamentos.
Produção de espermatozóides
No cérebro humano existem duas glândulas muito importantes para a fertilidade: o hipotálamo e a hipófise. O hipotálamo segrega a hormona libertadora de gonadotrofinas (GnRH), que dá sinal à hipófise para segregar duas hormonas, a hormona foliculo-estimulante (FSH) e a hormona luteinizante (LH). Ao contrário das mulheres, que produzem estas hormonas por ciclos, os homens produzem-nas a um ritmo uniforme ao longo do tempo. Na constante presença destas hormonas, os espermatozóides estão sempre a ser produzidos e amadurecidos.
Um homem adulto produz milhões de espermatozóides por dia. E, por segundo, são produzidos até 1500 espermatozóides em cada testículo.
A LH (hormona luteinizante) estimula umas células que se encontram nos testículos a produzirem testosterona. Estas células denominam-se por células de Leydig. A testosterona é fundamental para a excitação sexual, a produção de líquido seminal e a maturação dos espermatozóides.
A FSH estimula a diferenciação e proliferação dos espermatócitos primários. Os espermatócitos são células que, depois de amadurecerem se tornam espermatozóides.
Maturação dos espermatozóides
Os testículos situam-se na saco escrotal, no exterior do corpo. São compostos por milhares de pequenos tubos em espiral, designados por túbulos seminíferos. É nos túbulos seminíferos que se desenvolvem os espermatócitos primários. Estes túbulos são revestidos por umas células, denominadas por células de Sertoli, que alimentam os espermatócitos. Estes permanecem nos túbulos seminíferos por 72 dias, desenvolvendo a cabeça (local onde se encontra o material genético, os cromossomas), a peça intermédia (com materiais que geram energia) e a cauda. Os espermatozóides necessitam de muita energia para agitarem as caudas para se propulsionarem em linha reta. A cauda produz cerca de 800 movimentos por segundo para o espermatozóide se movimentar. Esta capacidade de mobilidade dos espermatozóides designa-se de motilidade.
Após os 72 dias, quando os espermatozóides estão quase maduros, saem dos túbulos seminíferos e entram num ducto altamente enrolado, com cerca de 6 metros de comprimentos, que se denomina de epidídimo. São necessários vários dias para percorrer os 6 metros deste canal, chegando por fim ao ducto deferente ou canal deferente, aguardando até à ejaculação.
No ducto deferente acumulam-se muitos espermatozóides. Este canal tem uma tal capacidade de armazenar que seriam necessárias 30 ejaculações para o esvaziar totalmente. No orgasmo, as primeiras contracções são do epidídimo e do canal deferente, para conduzirem os espermatozóides para a uretra.
As vesículas seminais são duas glândulas que produzem a maior parte do líquido seminal (parte do sémen que não contém espermatozóides). O líquido seminal mistura-se com os espermatozóides que chegam do ducto deferente e com a secreção prostática e da glândula bulbouretral ou glândula de Cowper.
O sémen
O sémen tem como função transportar os espermatozóides até ao óvulo, fecundando-o. O seu pH é alcalino para ajudar a neutralizar a acidez do trato vaginal e assim proteger os espermatozóides, que constituem menos de 20% do volume do sémen. Inclui também uma série compostos orgânicos e inorgânicos para alimentar os espermatozóides, durante a jornada até ao óvulo, de frutose (açúcares), vitaminas B12, C, E, potássio, zinco, aminoácidos, ferro, colesterol, enzimas, entre outros.
Estruturas mais importantes do sistema reprodutor masculino
Como vimos, o sistema reprodutor masculino, é influenciado por importantes estruturas do corpo. As mais relevantes são o hipotálamo, a hipófise, os testículos, as células de Leydig, os túbulos seminíferos, as células de Sertoli, o epidídimo, o vaso/ducto deferente, as vesículas seminais, a próstata, a glândula bulbouretral/de Cowper e a uretra.
Viagem dos espermatozóides até ao óvulo
O homem, quando ejacula, liberta cerca de 250 milhões de espermatozóides, mas, apenas um, fecunda o óvulo da mulher. A maior parte dos espermatozóides saudáveis sobrevive, no aparelho reprodutor feminino, entre 3 a 5 dias, com um máximo de 7 dias.
Desde a ejaculação até às trompas de falópio da mulher (local onde se dará a fecundação do óvulo) são cerca de 10 cm, mas os espermatozóides demoram 30 a 60 minutos a percorrer essa distância. Ao longo do caminho encontram diversos obstáculos, como por exemplo as secreções do muco cervical da mulher, que formam uma barreira e eliminam os espermatozóides com defeitos. No sémen, existem espermatozóides normais e saudáveis e espermatozóides com defeitos, constituindo os normais apenas 5 a 10%.
Quando o espermatozóide encontra o óvulo, que é 550 vezes maior do que a sua cabeça, tenta atravessar a primeira camada, constituída por uma massa de células viscosas. Muitos espermatozóides morrem ao tentar atravessar esta barreira. Os que a ultrapassam precisam de ultrapassar uma segunda barreira, que é 4 vezes mais espessa do que a sua cabeça e que se denomina por zona pelúcida.
Ao fim de cerca de 4 horas, apenas um espermatozóide consegue atravessar esta barreira, unindo-se ao óvulo. O óvulo fica fecundado, passando a designar-se por zigoto.
Este grande desafio que os espermatozóides enfrentam acaba por ser um processo de selecção, em que apenas os mais fortes e mais saudáveis conseguem atingir o interior do óvulo e fecundá-lo.
Notas sobre o sémen saudável
Aspectos macroscópicos do sémen
- Cor e aspecto: considerado normal quando branco e opalescente
- Tempo de liquefação: é o tempo decorrido até que a amostra se torne completamente líquida. Deve ser menos do que 60 minutos.
- Volume total ejaculado: normal quando superior a 1,5 mL
- Viscosidade: é descrita como normal ou anormal. Quando há alterações pode indicar problemas nas glândulas acessórias.
- pH: normal quando a 7,1 e inferior a 8.
Aspectos Microscópicos do sémen
- Concentração de espermatozóides: normal quando igual ou superior a 15 milhões por mL
- Número total de espermatozóides: normal quando maior ou igual a 39 milhões
- Motilidade dos espermatozóides: considerada normal quando igual ou superior a 32%
- Morfologia dos espermatozóides: Indica a quantidade de espermatozóides de boa qualidade. É considerada normal quando igual ou superior a 4%
- Vitalidade (quantidade de espermatozóides vivos): é normal quando igual ou superior a 58%.
As necessidades do corpo
Posto isto, para que o processo ocorra naturalmente, o corpo/organismo do homem necessita de estar:
- Equilibrado mental e emocionalmente, para que as hormonas libertadas pelo seu cérebro sejam libertadas em quantidade equilibrada para estimular corretamente a produção de espermatozóides.
- Desbloqueado, para que os fluidos, sangue e espermatozóides possam circular pelos diferentes canais/vasos.
- Bem nutrido, para fornecer nutrientes suficientes para gerar espermatozóides saudáveis e em quantidade suficiente.
- Com muita energia, para gerar muitos espermatozóides e dar-lhes energia suficiente para chegarem até ao interior do óvulo.
Principais causas de infertilidade
Existem inúmeras causas para a infertilidade masculina. No entanto, as que mais observados em contexto clínico incluem doenças genéticas, azoospermia (ausência de espermatozóides no sémen), oligospermia/oligozoospermia (baixa contagem de espermatozóides no sémen), oligoastenospermia (baixa quantidade de espermatozóides, com pouca motilidade e vitalidade), número elevado de espermatozóides com anormalidades e alterações hormonais no hipotálamo, na hipófise, na tiróide ou supra-renais.
Na perspectiva da Medicina Chinesa, uma grande fração das causas de infertilidade ocorrem devido a uma falta de energia do corpo, ao desgaste do corpo e a bloqueios continuados por um longo período de tempo.
De que forma podemos contribuir para o sucesso do processo
Os nossos tratamentos podem ser realizados a homens que pretendem recorrer aos procedimentos de extração ou aspiração de espermatozóides (TESE, MESA, TESA ou PESA), no âmbito do processo de fertilização in vitro (FIV)/injeção espermática intracitosplasmática (ICSI), ou a homens que pretendam seguir uma abordagem de fertilidade natural.
De acordo com o caso, os nossos tratamentos podem ter diferentes objetivos, de entre os quais, destacamos os seguintes:
- Aumentar os níveis de energia do organismo, para que este tenha capacidade de produzir mais espermatozóides, e com maior motilidade;
- Melhorar a capacidade do corpo de absorver nutrientes e aumentar o aporte dos mesmos, para gerar mais espermatozóides e com mais qualidade;
- Melhorar o bem-estar do homem e equilibrar o seu sistema nervoso e emocional, para desta forma proporcionar um maior equilíbrio hormonal.
O tratamento pode englobar várias abordagens terapêuticas, como a acupunctura, a fitoterapia, isto é, a prescrição de suplementos à base de plantas medicinais, vitaminas e minerais de elevada qualidade e fácil absorção, e o aconselhamento nutricional.